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OS PRIMEIROS PASSOS DA LONGA TRILHA


Nascido no Jardim Guanabara/Ilha do Governador, Rio de Janeiro, em 1947, Celso Barbosa iniciou seus estudos  com o Prof. Cesar Brasil na Associação Brasileira de Desenho/Rio, em 1967/68, situada na Rua Alcindo Guanabara, no centro do Rio. Alí obteve as primeiras noções de composição, tipos de materiais, técnicas de desenho e pintura, além de travar os primeiros contatos com alguns artistas profissionais como Geraldo de Castro, EdgarWalter, e outros.


Esses primeiros contatos serviram para concretizar o desejo de seguir na cerreira do  desenho, da pintura e mais tarde na de programador visual, designer, cenógrafo, etc.
Após o período na Associação Brasileira de Desenho, Barbosa matricula-se na Sociedade Brasileira de Belas Artes, na Rua do Lavradio, em 1970, e conhece aquele que se tornaria seu principal orientador e incentivador: o grande aquarelista, professor Waldir Granado, com quem ele desenvolve um estudo profundo sobre as infinitas possibilidades da aquarela, por cerca de oito anos consecutivos.



No segundo ano de trabalho junto ao professor Granado, é indicado pelo próprio mestre para ajudá-lo na orientação dos alunos iniciantes, tanto no desenho como na aquarela.
Neste período na SBBA, inicia sua primeira fase de exposições coletivas junto com o mestre e outros artistas.
Foi de grande importância esta fase na SBBA, pela qual tenho grande respeito, pelo que representou na minha formação e estímulo para seguir minha caminhada.
Não concordo com a opinião geral de que a SBBA sempre foi ultrapassada e inútil: por alí passaram muitos dos que hoje, atuam brilhante e profissionalmente no cenário artístico brasileiro, seja na pintura, seja como designer, escultor, etc.



Mesmo sem nunca ter contado com o apoio financeiro do governo ou de outros patrocinadores, ela se manteve, de uma maneira ou de outra, como ponto de partida para inúmeros jovens, que como eu, vieram dos subúrbios do Rio de Janeiro, com pouquíssimas chances de frequentar melhores ambientes culturais ou cursos, por sua própria condição financeira e o consequente distanciamento dos círculos intelectuais e em particular, o das artes plásticas .
Funcionando, nos idos de 70, das 14 às 22 horas, eu pude frequentar, na SBBA, a classe de aquarela de Granado, após meu horário de trabalho, de segunda a sexta-feira durante cerca de oito anos.



Aos sábados e domingos saíamos em grupo para pintar pelas ruas do centro do Rio, sempre com a orientação e o entusiasmo do amigo Granado.



E é desse entusiasmo que me lembro, com muita saudade: era incrível vê-lo subir pelas cadeiras e mesas, gesticulando e falando incessantemente da beleza, das cores, das formas e do movimento nas composições de natureza morta, que montava e iluminava, em nossa sala de aula ou durante suas vibrantes explanações nas velhas ruas do Rio. Isso sem falar nas demonstrações de verdadeira modéstia, virtuosismo e imenso talento no desenho e na técnica apurada de suas aquarelas.



Foi, sem dúvida, um privilégio participar daquilo tudo...e hoje, quando estou dando alguma orientação a um aluno, me vejo repetindo, as palavras e os gestos absorvidos deste grande artista e orientador que o Brasil, por sua total e absoluta incoerência e desestrutura cultural, mal conheceu...



Correndo o risco de esquecer de alguns, lembro de artistas que por ali passaram, como alunos ou apenas como observadores, mas que chegaram a produzir aquarelas de excelente nível profissional, tais como: Alexandre Trick, Robson Granado, Roberto Gonçalves, Helber de Castro, Zaíra Barion, Oziel , Paulo Vieira, Virgílio Dias , Rosita Furtado, Raimundo Botelho, Jadir Freire, Mondego, Siciliano Cavalieri, Maria Verônica e tantos outros...



O rítmo de produção que este grupo de aquarelistas impunha, naquela época de aprendizado com o Granado, era de tal ordem que, ao final de cada semana de estudos amontoavam-se dezenas e dezenas de aquarelas realizadas, num canto da sala, e que os alunos não consideravam como de boa qualidade artística!
E foi desta verdadeira montanha de trabalhos que o mestre pinçou um de meus estudos - uma porta de bar da Lapa, e mandou que eu o emoldurasse. Esta aquarela valeu-me a primeira medalha de ouro de minha carreira!



Foi, também nesta época, que fiz contato com inúmeros profissionais como Oswal do Teixeira, Edgar Walter, F. Brunocilla, Carlos Gomes, Iracy Carise, Sansão Pereira, Finatti, J. Righetti, Djalma da Costa, Cláudio Teixeira, Paulo Marinho, o escultor Joás, Armínio Paschoal, cujos sucesso, naquela época, serviram de grande estímulo para que eu seguisse adiante.



Ainda na SBBA, Barbosa criou a Sala Permanente de Modelo Vivo em 1980, onde  ensinava desenho e aquarela, num trabalho realizado com cerca de 40 artistas.
Esta iniciativa teve o apoio da “Praça das Artes”, que ficava na Rua do Lavradio 100, bem ao lado da SBBA e cujo proprietário, José Monteiro, misto de mecenas, intelectual, comerciante de material de pintura e vez por outra de ouro, além de observador atento do movimento artístico do Rio daquela época, e que patrocinou a montagem desta Sala de Modelo Vivo mandando confeccionar bancadas para modelo, 40 cavaletes, em um dos quais pinto até hoje, iluminação adequada, a impressão do folder de apresentação do evento, etc.



Era um agradável hábito diário minha visita àquele brechó, galeria de arte e loja de material de pintura. A conversa girava em torno do movimento artístico do Rio,  da crítica do meu trabalho, e é claro da situação sócio-política do país, naquela época muito conturbada e difícil.
Quase todas as minhas horas vagas eram gastas nestas conversas com o curiosíssimo, inteligente e inesquecível amigo José Monteiro e sua esposa, a artista plástica Teruko, que também participava nesses nossos longos papos.



Devo muito de minha formação a estes verdadeiros e incontáveis “personagens” que povoaram as diversas fases de minha iniciação artística.
Tenho, vez por outra, a nítida sensação de que foi tudo orquestrado,por um generoso e insondável destino.


NO RUMO DA PROFISSIONALIZAÇÃO


Em 1973, a convite do mestre Granado, o artista é indicado para Diretor Artístico e professor da recém fundada Sociedade dos Pintores de Aquarela do Brasil, em Petrópolis, sob o Patronato de  D. Pedro de Orleans e Bragança. Foi como Diretor e Professor da SPAB que Barbosa realizou diversas Mostras de Aquarela, junto com Granado: Mostra do Clube Paulistano/SP, 1978; outra no Banco Bamerindus/Petrópolis, 1977; Coletiva do Grupo dos Seis Aquarelistas no Centro Cultural de Petrópolis, 1977; Individual no Iate Clube do Rio de Janeiro, em 1978; Participação no Primeiro Encontro Nacional de Aquarelistas, em Petrópolis, 1978; Primeiro Encontro Internacional de Aquarelistas em Petrópolis, 1979. Paralelamente com a pintura Barbosa iniciou, em 1969 (até abril de 2000), sua atividade como Diretor de Arte e Programador Visual na Petrobras/Reduc. Foram 33 anos de trabalho ininterruptos na criação de projetos gráficos para jornais, revistas, cartazes, ilustrações, logotipos, folders, projetos de stands para feiras e exposições, etc. Neste período participou  de  exposições  na Petrobras nos anos de 1975/77/83/90/97/98 e 1999 quando recebeu dois prêmios de Aquisição para o acervo da empresa. De 1982 à 2000 foi curador do Espaço Cultural Petrobras/Reduc.



A INDIVIDUAL EM ÉRICE/SICÍLIA


Em 1979, numa segunda viagem de cerca de 4 meses por Portugal, Espanha, França, Alemanha e Itália, Barbosa seleciona 30 aquarelas de um total de 70 produzidas neste percurso para uma Mostra de Aquarelas realizada na cidade de Érice-Província de Trapani/Sicília em julho de 79, a convite da Prefeitura local. Hoje o artista se arrepende de não ter fotografado todos os trabalhos realizados durante a viagem.
Somente uma parcela das aquarelas foram fotografadas com máquina doméstica pelo próprio artista e servem apenas como registro ilustrativo neste capítulo  já que não foram utilizados equipamento e iluminação profissionais.



DO PAPEL PARA A TELA


A partir de 1990 Barbosa passou a pintar com tinta acrílica sobre tela. Os temas também foram sofrendo mutações, passando para paisagens, marinhas e nús com interferências abstratas, em painéis de no mínimo 1.00x080m.
Seus trabalhos fazem parte de coleções particulares no Brasil, EUA, Áustria, Ale-manha, Japão, África, Inglaterra, Bélgica, etc., além de constar nas Pinacoteca da Petrobras/Rio, no acervo da Donnelley-Chocranne/SP, pinacoteca de Zélia Gattai, do acervo do Museu Naval/Rio, acervo do Via Parque/Rio.
Em 1995 e 1996 realizou individuais na  Galeria de Arte Petrobras/Reduc.



Em 1998/99 produziu quase que exclusivamente para a Arte Pouso Galeria de Arte/Paraty, numa parceria com o escultor Dalcir Ramiro, em exposição permanente; recebeu o primeiro prêmio/aquisição das Mostras de Arte da Petrobras de 1998 e 99, e em 2000 fez Individual na Ferradura Guest House em Búzios, RJ; Individual no Espaço Cultural Arte em Foco, Barra da Tijuca/Rio; e Coletiva de pinturas de Barbosa e esculturas da artista Daysi Fabrianni, na Galeria do Via Parque, Barra da Tijuca/ Rio, em 2001 e da mostra “Ecos da Cultura Italiana: Arte no Rio de Janeiro em 2002” sob o patrocínio da Prefeitura de Roma e com o apoio da Universidade Gama Filho e do Centro de Documentação da Marinha, no Museu Naval do Rio em novembro de 2002 com a expectativa de que esta mostra siga para Roma após seu período no Rio.



DO FIGURATIVO AO ABSTRATO


1995 foi o ano em que o artista  iniciou a pesquisa e o experimento das composições abstratas, a princípio com algumas interferências figurativas até chegar aos dias de hoje com trabalhos essencialmente abstratos, nos formatos que variam de 1.00x0.81 a 1.30x0.90m  chegando aos dípticos de 1.80x1.30m e aos de grande formato.
Esta transição do figurativo para o abstrato transformou-se numa enorme fase de estudos de técnicas, de escolas e de movimentos...


Esta longa pesquisa que se inicia em torno de 1915, ao “futurismo russo” dos anos 20, de V. Majakowskj, D. Burljuk e A. Ekster, e daí para o belo “sincronismo de vanguarda” dos norte-americanos Macdonald - Wright, J. Stella, M. Hartley, O’Keeffe, passando pelos expressio-nistas Kandinskij, Franz Marc e Emil Nolde.



O estudo continuou pelo Cubismo, o Concretismo e o Surrealismo, assimilados das dezenas de livros pesquisados e pela preciosa contribuição dos longos “papos sobre arte” com a grande amiga, pesquisadora,  “double” de designer/artista plástica e genial escritora Iracy Carise, isso, sem nos esquecer do Dadaísmo espetacular de M. Duchamp  que nos legou o magnífico painel Tum’, um óleo sobre tela , de 3.30x0.70m, pintado em 1918 e que se encontra na Yale University Art Galle-ry/USA, e que vem servindo, confessadamente, de base de pesquisa e de planejamento de obras de inúmeros artistas em todo o mundo, desde aquela época.



Na busca por um consequente e profissional caminho na pintura, Barbosa segue sua tarefa observando mais de perto os artistas contemporâneos europeus, das américas do norte, central e do sul, chegando afinal aos seus conterrâneos de quem também vem sofrendo influência como o exemplo mais próximo, o do grande amigo e excelente pintor Bernardii, de cujo atelier Barbosa é frequentador assíduo há, pelo menos, 25 anos.


“Foi justamente a influência desta amizade, as discussões sobre os caminhos da arte no mundo contemporâneo e, confesso, os novos mercados que se abriram para este tipo de expressão além do grande prazer em exercitá-la, os grandes culpados pelo novo rumo pretendido, na direção de uma pintura mais contemporânea, com alguma coerência estética e um mínimo de valor artístico...”


Devo registrar que meu trabalho é o resultado da pesquisa, da observação, do experimento - direto ou indireto destas técnicas, isso, desde 1970, com o mestre Granado, na fase das aquarelas, até os dias de hoje - e talvez para sempre - já que me considero um eterno estudante sem a menor pretensão de ser reconhecido como um pintor inovador; “essência da contemporaneidade”, ou coisa que o valha...


Acredito que os séculos de produção artística realizada pelo homem, desde as cavernas, são um gigantesco e, com raríssimas excessões, quase intransponível obstáculo a ser  superado, em termos de concretas e efetivas “inovações na arte”.


Tenho trabalhado muito e diversificadamente nos últimos 35 anos, e afinal, não é mera coincidência a grande admiração pela vida e obra do “Dada” Man Ray, que estudava no Brooklin e atuava ao mesmo tempo como aprendiz decorador de uma fábrica de guarda-chuvas na manufatura de bastões de prata, além de trabalhar numa empresa de publicidade e ainda como editor de cartografia em outra firma. Isso sem falar da iniciação em literatura francesa, incentivado pela primeira espôsa Donna Lacour (Adon Lacroix), a praticar a fotografia, essencial em sua obra, e ainda jogar tênis nas “horas vagas”.



“Sinto sim, que devo continuar trabalhando e pesquisando este ofício para o qual fui “convidado” a praticar nesta vida, e do qual não se pode, felizmente e de modo nenhum, declinar...”
                                                                                                                                                     Celso Barbosa


 


O ARTISTA E A FOTOGRAFIA


A fotografia sempre esteve presente na vida de Barbosa desde a juventude.
As experiências nesta área iniciaram-se quando o artista saía para pintar pela cidade e pelo campo levando sua modesta câmera em busca de instantâneos do cotidiano das pessoas e de paisagens.


 
Ao ingressar na publicidade o artista começou a exercitar-se na produção e direção de fotos para seus projetos de programação visual. 
E foi nessa fase que absorveu conhecimentos de corte fotográfico, iluminação, composição e de efeitos obtidos em laboratório, principalmente com o famoso fotógrafo argentino Esteban Marco e sua mulher, a artista plástica, designer gráfica, produtora de fotografia e compositora Ester Glanzer, também de origem argentina, e do grande artista da fotografia, o carioca Clóvis Scliar, sobrinho do pintor e mestre Carlos Scliar.


 
Mais uma vez o destino colocava grandes profissionais da arte no caminho do, então, jovem autodidata Barbosa...
Todo esse conhecimento dos mistérios da fotografia, apreendido nesta fase de sua vida, é aplicado até hoje, conscientemente ou não, em todas as áreas artísticas em que atua.
O acervo fotográfico do artista é composto de muitas centenas de fotos a cores e preto e branco e ao qual recorre sistematicamente quando necessita pesquisar para produzir novas composições em projetos gráficos, pinturas, cenografias, etc.